quarta-feira, 18 de abril de 2012

O caso do padre Christian von Wernich. A Igreja utiliza "réguas" diferentes

Fonte: Unisinos

nov.2007

O jornalista Washington Uranga em artigo para o Página/12, 5-11-2007, afirma que até o momento a Igreja argentina e o Vaticano não se pronunciaram sobre o afastamento e do padre Christian von Wernich condenado pelo apoio e pratica de tortura durante a ditadura argentina. Uranga destaca que a Igreja age com critérios diferentes quando se trata de punir religiosos. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

No dia 09 de outubro, o sacerdorte Christian von Wernich foi condenado por delitos lesa humanidade. No mesmo dia, a Conferência Episcopal Argentina em um tíbio comunicado, fiel a sua linha de argumentação, insistiu que o padre atuou “sob responsabilidade pessoal”. Consequentemente, para os bispos não há responsabilidades institucionais.

No dia seguinte e depois de receber várias pressões por parte de outros membros da hierarquia católica, o bispo de 9 de Julho, Martín de Elizalde, pediu “perdão” em nome da Igreja pelos delitos de Von Wernich, mas ‘empurrou a bola’ para frente sobre as sanções ao padre violador dos direitos humanos.

“Oportunamente se dirá como resolver, conforme as disposições do Direito Canônico (a lei eclesiástica), acerca da situação de Christian von Wernich”, escreveu então o bispo. Essa oportunidade entretanto não chegou e o padre preso continua ostentando a sua condição de ministro religioso.

(os padres que enfiam o pé na jaca nunca são excomungados, nem torturadores, nem os pedófilos - só a mãe da menina grávida por abuso foi excomungada por ter concordado com o aborto, enfim ... é essa a lógica da moral cristã)

Vale a pena perguntar de que outras provas precisa a Igreja e, em particular, o bispo de 9 de Julho para tomar medidas contra quem como ficou comprovado, contradisse não apenas os ensinamentos fundamentais do Evangelho, mas que para além disso atentou contra a vida de que a Igreja defende com tanta vêemencia em outros casos.

Ao menos, que o bispo Martín de Elizalde considere que, como pensa, Von Wernich, a Justiça atuou politicamente e por vingança e que tudo o que fez o ex-capelão de Ramón Camps não foi senão uma contribuição a mais para “salvar” almas.

O certo é que até hoje, Von Wernich continua sendo sacerdote da Igreja Católica com todas as atribuições e reconhecimentos que isso implica. Poderia se dizer que “oportunamente” o bispo Martín de Elizalde está deixando passar o tempo sem tomar medidas porque considera que a grave e categórica conclusão da Justiça ao condenar o padre não é razão suficiente para gerar sanções eclesiásticas.

Diferente é a atitude da mesma Igreja frente a outras situações. No dia 12 de outubro, um padre italiano foi suspenso por admitir publicamente sua homossexualidade. O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse então que “as autoridades vaticanas tem que intervir com essa decisão e severidade diante de um comportamento não compatível com o serviço sacerdotal e a missão da Santa Sé”. Medida exemplificadora pode-se dizer.

No dia 26 de outubro, o bispo de Pádua (Itália), Antonio Mattiazo suspendeu a divinis (medida que impede de exercer o ministério sacerdotal), o padre Sante Squotti (41 anos) por ter admitido publicamente estar apaixonado por uma mulher. “Não posso ter um filho, nem casar-me – disse o padre -, mas posso me apaixonar, porque o Direito Canonico não estipula nenhuma sanção para isso”. O argumento não serviu e o sacerdote foi castigado.

Poderá se argumentar que as situações são distintas e que cada bispo tem autonomia para tomar decisões em suas dioceses. Mas a Igreja Católica é a mesma aqui e na Itália e está claro que não se mede com a mesma régua a quem “peca” por amor e quem está condenado por genocídio. Não é preciso lembrar aqui a sorte do que aconteceu com os sacerdotes católicaos argentinos que decidiram falar publicamente do seu amor e questionar o celibato.

É o caso de perguntar se demoraria às sanções eclesiásticas contra um ministro que se atrevesse a contradizer publicamente a doutrina católica sobre o celibato, homossexualidade, indissolubilidade do matrimonio ou discriminalização do aborto. Seguramente, a “oportunidade” nesse caso teria uma celeridade e um critério bastante diferentes ao que hoje se aplica a Von Wernich.

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