quarta-feira, 12 de junho de 2013

Reportagem Detalha Uso De Crianças Em Torturas Na Ditadura Militar

quarta-feira, 12 de junho de 2013





Enviado por Chico Villela da NovaE
Vídeo produzido pela TV Record, R7 



O repórter Luiz Carlos Azenha (R7 e titular do blog Viomundo) entrevistou vítimas do regime militar para contar uma história que ainda não foi totalmente revelada. Veja no especial As Crianças e A Tortura

As mulheres torturadas pela ditadura

quinta-feira, 21 de março de 2013

altamiroborges 

Por Tatiana Merlino, no sítio da Comissão da Verdade de São Paulo:

Quando os homens já estavam dentro de sua casa, Ieda pensou em resistir e pegar a metralhadora que estava em cima da mesa. Não houve tempo. Ela, sua irmã Iara e a mãe delas, Fanny, foram arrancadas de casa e levadas para a Oban (Operação Bandeirantes), em São Paulo.

Passava das 21 horas de 16 de abril de 1971 quando elas chegaram ao centro de tortura da Rua Tutóia, no bairro do Paraíso. Lá estavam presos e sendo torturados desde a manhã daquele dia, seu irmão, Ivan Akselrud Seixas, e seu pai Joaquim Alencar de Seixas, ambos militantes do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT).

Mãe e filhas foram separadas. Ieda foi levada para um banheiro, no segundo andar do prédio. Lá, havia uma cama e no lugar do colchão, uma tela e um cobertor.

O entra e sai de homens no cômodo era grande. As luzes apagaram-se, e Iara ouviu a ordem: “tragam o Ivan”. Na sequência, um som de rajada de metralhadora e um grito de Fanny. Era a primeira de várias simulações do fuzilamento de Ivan que a família viveria.

Ieda estava sentada na cama quando o movimento de homens no banheiro continuou. Um entrava depois do outro, uns dez no total. Um deles sentou-se ao seu lado, pressionando-lhe o corpo. Do outro lado, sentou outro, que usava um chapéu. “Era um homem asqueroso”, recorda-se Ieda.

Ele tirou os sapatos e enfiou a mão por entre as pernas de Ieda, alcançando sua vagina. “Me dê choque, me bata, mas não façam isso comigo”, suplicou a moça, desesperada, em vão. O homem era o delegado da polícia civil Davi dos Santos Araújo, conhecido no DOI-Codi como Capitão Lisboa.

Simulação

De madrugada, Ieda foi colocada numa viatura veraneio C-14, cheia de homens, e levada ao Parque do Estado. Ivan foi levado ao mesmo destino, porém em outro carro. Lá, houve novamente a simulação de fuzilamento do então adolescente de 16 anos. E, no carro, Capitão Lisboa, sentado ao lado de Ieda, novamente a violentou.

No caminho de volta ao DOI-Codi, os agentes desceram numa padaria para tomar café e de dentro do carro, Ivan e Ieda conseguiram ver a manchete do jornal Folha da Tarde numa banca de revista, que dizia que o pai deles, Joaquim Alencar de Seixas morrera. Porém, quando os irmãos chegaram ao DOI,Joaquim ainda estava vivo.

Mais tarde, Ieda foi obrigada a tomar um copo de leite, muito doce. “Só acordei no dia seguinte. Creio que fui dopada enquanto tiravam de lá o corpo do meu pai, que havia sido morto”.

Seixas fora assassinado por volta das 19 horas do dia 17. Sua esposa, Fanny, viu uma C14 ser estacionada no pátio e dentro colocarem o corpo do marido. Ouviu, também, um policial perguntar a outro: “De quem é esse presunto?”. Como resposta, ouviu: “Esse era o Roque” [codinome de Seixas].

O depoimento emocionado de Ieda Seixas foi dado na última quinta-feira, 14/03, em audiência pública da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”, que também contou com o relato da ex-presa política Elza Lobo.

Desaparecimento

Além do assassinato de seu pai, das torturas que ela e sua família foram submetidas, Ieda ainda denunciou o caso de um jovem que viu desaparecer no DOI-Codi. “Eu vi esse menino sentado no pátio. Era magro, loiro, aparentava ser muito novo. Ele foi levado para o andar de cima, onde foi torturado. Ouvimos seus gritos, e depois, ele silenciou, foi morto. Não sei quem é esse garoto. Certamente ele ainda está sendo procurado por alguma família”, relatou.

Ieda ficou um ano e meia presa: “Mas é como se tivesse ficado quase seis, porque foi o tempo que o Ivan ficou preso”. Passados 41 anos de sua prisão, a mulher de hoje 65 anos afirma que os gritos dos torturados da Oban nunca saíram da sua cabeça.

Durante a audiência, o presidente da Comissão da Verdade de SP, o deputado Adriano Diogo, comemorou a transformação do prédio onde funcionou, por 72 anos, o Tribunal da Justiça Militar, em Memorial dos Advogados de Presos Políticos. No imóvel também funcionará a sede de comissões da verdade.


Cadeira do dragão e choques

No dia 10 de novembro de 1969, voltando do trabalho, Elza Lobo chegou em casa e encontrou a porta de entrada encostada. Sentado na escada, estava o capitão Maurício [Lopes Lima]. Levada à Oban, a então militante da Ação Popular Marxista Leninista foi submetida a inúmeras torturas.

Puseram-lhe um capuz, e depois de atravessar uma área externa, foi levada para um corredor, com paredes molhadas, de onde escorria água. Depois, foi transferida para uma sala de tortura, onde foi colocada na cadeira do dragão, [cadeira revestida de zinco ligada a terminais elétricos, onde presos sentavam nus]e submetida a choques elétricos nas mãos, orelhas, seios, vagina.“As torturas foram intermináveis”, recorda-se Elza, que à época era funcionária da Secretaria da Fazenda de São Paulo.

“A gente ficava jogado no chão, com a porta trancada. Se queria ir ao banheiro, tinha que pedir. E eles decidiam se abriam ou não”, explicou, durante a audiência da Comissão da Verdade. Elza lembrou de outra situação “muito violenta”, quando entre os interrogadores havia “pseudo religiosos, fingindo-se de bonzinhos para nos tentar convencer a falar. Até livros religiosos eles traziam para completar a farsa”, explicou. Depois de 15 dias na Oban, Elza foi levada para o Dops, e no total, ficou 2 anos presa. A audiência de sobreviventes foi a primeira de uma série, que irá ouvir ex-presos vítimas de tortura.

* Tatiana Merlino é jornalista da assessoria da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”- presidente Adriano Diogo.

Comissão da Verdade quer acabar com a família, a Igreja e as Forças Armadas - dizem os militares

Militares colocam em dúvida metodologia do órgão e levantam teoria conspiratória para acabar com a Lei da Anistia

Wilson Lima e Luciana Lima - iG Brasília | - Atualizada às


Após um ano de investigação, são cada vez maiores as queixas dos militares contra os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade. Se antes a dúvida estava relacionada apenas ao foco das investigações, hoje os militares alegam que todo o trabalho tem o objetivo de derrubar a Lei da Anistia (Lei 6.683/1979).

Os militares acreditam que a Comissão é um órgão “para acabar com pilares sagrados da extrema direita: a Igreja, a família cristã e as Forças Armadas”
 como define o assessor especial da presidência do Clube Militar do Exército, general Clóvis Purper Bandeira. “Eles (integrantes da Comissão da Verdade), filhos da burguesia, querem acabar com as instituições como a família, a Igreja e as Forças Armada”, comentou.


Wilson Dias/ABr
Ustra, que comandou o DOI-COdi, depõe na Comissão Nacional da Verdade
Mesmo com a definição expressa nos objetivos do órgão, de trazer a verdade sobre os crimes cometidos pelo Estado em nome da ditadura militar, as altas patentes das Forças Armadas ainda insistem na ideia de que se deve buscar uma paridade na composição da comissão e nas investigações. O general de brigada do Exército Luiz Eduardo da Rocha Paiva afirma que os casos de militares que morreram em conflito com os movimentos armados também precisam ser investigados.

“Já que ela (a Comissão) está aí, que funcione, mas que cumpra o que está na lei. A lei é bem clara, não é para investigar apenas os crimes cometidos por agente públicos. A lei diz que deve ser feita a reconstrução dos casos de graves violações dos direitos humanos para que seja prestada assistência às vítimas. E aquelas 120 vítimas do outro lado? Essas são, por acaso, cidadãos de segunda categoria?”, questionou o general que acusou a Comissão de se “autolimitar”.
Em março, o Clube Naval do Rio de Janeiro, o Clube Militar do Exército e o Clube da Aeronáutica divulgaram uma nota oficial denominada “Mensagem à nação brasileira”. O documento criticava os trabalhos da Comissão da Verdade. As entidades afirmaram que havia no Brasil um Estado de exceção e que, por esse motivo, era necessário o sufocamento de uma ameaça comunista.

“O povo brasileiro, no início da década de 1960, em movimento crescente, apelou e levou as Forças Armadas Brasileiras à intervenção, em março de 1964, num governo que, minado por teorias marxistas-leninistas, instalava e incentivava a desordem administrativa, a quebra da hierarquia e disciplina no meio militar e a cizânia entre os Poderes da República.”

Entre os representantes das Forças Armadas há um pensamento de que a CNV, instituída durante o governo do PT, foi criada como instrumento de vingança contra os militares. O ápice desse plano seria a mudança na interpretação da Lei da Anistia .

“Eu acho que, de posse do resultado dos trabalhos da Comissão da Verdade, parlamentares, principalmente do PT, tentarão modificar os efeitos da Lei da Anistia. Logo ela que foi a pedra angular da reconciliação nacional”, afirma o presidente do Clube Naval do Rio de Janeiro, o vice-almirante Ricardo Antônio da Veiga Cabral.


Agência Brasil
O ex-sargento Marival Chaves, que trabalhou no DOI-Codi/SP, presta depoimento na Comissão
A primeira confirmação da “atitude parcial” da Comissão da Verdade teria sido a expedição de uma resolução, em agosto do ano passado, delimitando o foco de atuação do órgão. De acordo com esse documento, a Comissão da Verdade passou a investigar apenas os crimes cometidos por agentes do Estado. “Essa é uma meia verdade”, disse. “A Comissão da Verdade quer causar um maior prejuízo à Forças Armadas enquanto eles pousam como defensores da democracia”, critica Bandeira.
 Após o lançamento da Comissão, o Clube Naval chegou a instituir, por meio de portaria interna, uma comissão especial para acompanhar os trabalhos do órgão. Eles temiam que membros da Marinha fossem convocados e disponibilizaram assessores jurídicos para evitar a condução coercitiva. Até agora, nenhum membro da marinha foi convocado pelo colegiado. Ao todo, 17 militares já prestaram depoimentos à Comissão da Verdade.

Ministros e Parlamentares são cassados pelo AI-5 - 16 de janeiro de 1969

A lista de cassações aumentou no mês de janeiro em consequência da edição do Ato Institucional número 5 (AI-5), em dezembro de 1968.

A punição atingiu parlamentares e até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Entre os que perderam o mandato estavam:

2 senadores - Aarão Steinbruck e João Abraão -,
35 deputados federais,
3 ministros do STF - Hermes Lima, Vítor Nunes Leal e Evandro Lins e Silva,
além de aposentar compulsoriamente os ministros Antônio Gonçalves de Oliveira e Carlos Lafaiete de Andrade.

O AI-5 não poupou nem o ministro do Superior Tribunal Militar (STM) Peri Constant Bevilacqua, que, segundo o porta-voz do Presidente Costa e Silva, Carlos Chagas, era acusado de "dar habeas-corpus demais".

O Congresso foi fechado, e só foi reaberto em outubro, para eleger o general Emílio Garastazu Médici à Presidência da República.

O AI-5 foi o instrumento criado para dar amparo legal aos atos arbitrários cometidos pela ditadura militar. O decreto autorizou o presidente da República a fechar o Congresso, intervir nos Estados e municípios, cassar mandatos parlamentares, suspender por 10 anos os direitos políticos de qualquer cidadão, confiscar bens considerados ilícitos, além de suspender a concessão de habeas-corpus.

Os encarregados de inquéritos políticos estavam autorizados a prender qualquer pessoa por 60 dias, 10 dos quais estas deveriam permanecer incomunicáveis. Emissoras de televisão e de rádio, e redações de jornais seriam ocupadas por censores. O AI-5 foi seguido por mais 12 atos institucionais, 59 atos complementares e oito emendas constitucionais, e foi revogado em 17 de outubro de 1978.


fonte - jblog

O assassinato de Manuel Fiel Filho - 17 de janeiro de 1976


Eram 9 horas da manhã de uma sexta-feira, quando dois indivíduos, numa caminhonete bege, pararam em frente à Metal Arte Industrial Reunidas, na zona leste da capital paulista e, identificando-se como agentes do DEOPS dirigiram-se ao encarregado do Departamento de Pessoal da empresa, em busca de Manuel Fiel Filho, empregado há 19 anos - encarregado do setor de prensas hidráulicas, informando urgência em contactá-lo. Cinco minutos depois, de uniforme em brim azul, estava diante deles o funcionário, que havia chegado às 7h ao trabalho.
Os agentes pediram que Manuel os acompanhasse para prestar um esclarecimento. Segundo o chefe do Departamento de Pessoal, Manuel estava tranquilo e antes de acompanhar os agentes fez uma única pergunta: "Será preciso eu trocar de roupa ou posso ir assim mesmo"? E ouviu a seguinte resposta de um deles: "Pode ir assim mesmo, que logo você estará de volta".

De lá, os três seguiram para a casa de Manuel, também na zona norte de São Paulo, onde estavam sua esposa e filhas. Sem nada explicá-las, apenas recomedaram: "Ninguém deve falar nada com ele". E começaram a revistar o domicílio. Ao final das buscas, permitiram que Manuel ficasse a sós com a família por alguns instantes, mas ao ser questionado pela esposa, apenas a abraçou e disse: "Não se preocupe, nega, que eu não vou demorar". Em seguida, Manuel e os policiais entraram no carro e deixaram o local.

Manuel Fiel Filho não foi mais visto.


Apesar da preocupação, todos resolveram aguardar por notícias. Até que, as 22h de sábado, 17 de janeiro de 1976, um táxi apareceu à porta da casa de Manuel, e sem descer, o passageiro informou à sua esposa secamente: "Seu marido se suicidou". E estendendo os braços para fora do carro, entregou-lhe um saco com os pertences que Manuel usava no dia anterior: Blusão, calça, sapatos, cinto e uma nota de Cr$ 10. Também havia um envelope timbrado do II Exército, com os documentos do operário.

A família seguiu para o IML, à procura do corpo de Manuel, mas os funcionários negaram que ele tivesse dado entrada ali. Contudo, diante da insitência de seus parentes, os funcionários acabaram por admitir que o corpo do operário havia chegado poucos minutos antes, vindo do Hospital das Clínicas, onde havia dado entrada após passar mal no trabalho e acabara de morrer. Porém, havia ordens no IML para que ninguém visse o corpo de Manuel e que a família não fosse comunicada do enterro.

Por fim, diante da pressão dos irmãos de Manuel, o corpo de Manuel acabou sendo velado, sob escolta policial, na capela da Igreja Nossa Senhora de Lourdes, no bairro Belém, com a condição de que a cerimônia fosse rápida e discreta. Alguns conhecidos puderam ver um corte profundo, longitudinal da altura do queixo ao pescoço, para o qual receberam a explicação de tratar-se de uma autopsia.

Em poucos minutos, encerrou-se o sepultamento. E para todos que se retiravam, um policial à paisana recomendava que evitassem comentar o acontecimento, que não deveria ultrapassar o âmbito familiar. A viúva e as duas filhas de Manuel não voltaram para casa e deixaram São Paulo no mesmo dia.


A vida e morte de Manuel é a base do documentário Perdão Mister Fiel - O Operario que Derrubou a Ditadura no Brasil que mostra a atuação dos Estados Unidos na caça aos comunistas e nas ditaduras militares na América do Sul.

fonte jblog
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